domingo, 31 de maio de 2015

O Diário de Thomas Grant - Capítulo 1: Introdução


GÊNERO: Suspense

CLASSIFICAÇÃO ETÁRIA: Proibido para menores de 17 anos.

SINOPSE: Thomas Grant é um psicólogo renomado na década de 1950. Sua reputação se deve a um dom raro que ele possui. Ele tem visões do futuro e consegue prever a morte das pessoas antes que aconteça. Sem conseguir mais manter esse segredo, ele resolve divulgar seu dom na imprensa, o que faz com que ele seja levado para um sanatório, que esconde muitos segredos sombrios em suas paredes.

Essa história será divida em cinco capítulos interativos. Como a história foi um livro impresso para um trabalho da faculdade, alguns pedaços só poderão ser melhor aproveitados em uma versão impressa. Todo o restante foi adaptado para posts.


O DIÁRIO DE THOMAS GRANT


Este diário pertence a Thomas Grant. 
1953 


Olá! Meu nome é Thomas Grant! Se você está lendo isso, quer dizer que eu estou morto. Ou não. Tudo depende de você. 

Eu mantive meu diário muito bem guardado por todos esses anos por uma boa razão. Fiz coisas de que me arrependo. Tomei decisões erradas. Mas agora que você o encontrou, terá a chance de mudar isso. 

A verdade é libertadora, não é mesmo? Não há nada melhor do que repousar, todas as noites, a cabeça no travesseiro tendo a consciência limpa. O que lhe ofereço agora é algo raro no mundo em que vivemos. Um mundo cheio de mentiras, trapaças. Eu lhe ofereço o dom da verdade. De saber quem são os verdadeiros monstros. Às vezes, eles estão mais perto do que imaginamos. 

Sei que parece que sou apenas um covarde que não consegue resolver os próprios problemas sozinho. Vou entender se fechar este diário agora e deixá-lo onde o encontrou. Mas caso queira conhecer a minha história, saber o que eles fizeram, ficarei feliz em lhe contar. 

Fui condenado ao inferno unicamente porque queria ajudar as pessoas de uma forma que nenhum homem jamais conseguiria. Engana-se se pensa que fui assassinado por eles. Para falar a verdade, a morte teria me poupado de todo o sofrimento. Eu conheci de perto e em camarote o inferno, e ele fica aqui mesmo, na Terra. 

Deixe-me encarnar em você, leitor. Vista minha pele. Respire o mesmo ar que eu respiro. A partir de agora, você é Thomas Grant. Verá o que eu vi, sentirá o que eu senti, e talvez vá enlouquecer como eu enlouqueci. Mas do que é feito este mundo senão de um pouco de loucura? 

No decorrer das páginas deste diário, que será dividido em capítulos, você terá que tomar certas decisões. Cada decisão tomada poderá leva-lo a diferentes caminhos e finais. Entre estes finais, você poderá provocar a minha morte, ou poderá me salvar. Você deve ser cuidadoso e perspicaz. Agir antes de pensar é um luxo que você não poderá desfrutar aqui. 

Você ainda pode fechar este diário agora. Não? Bom, sendo assim, seja bem-vindo à insanidade. 


CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO 

Eu trabalhava como psicólogo no Hospital Geral de Chicago. Minha reputação entrou em grande ascensão no tempo em que trabalhei lá. Fui considerado o melhor psicólogo de toda Chicago. Era responsável pelo tratamento de pacientes em estado avançado de depressão e distúrbios psicológicos. Modéstia a parte, depois que essas pessoas passavam pelo meu tratamento, depois de alguns meses, elas estavam curadas, prontas para continuar vivendo suas vidas patéticas e corriqueiras. 

Você deve estar imaginando que sou um médico brilhante, com uma formação impecável. Até que nem tanto. Mas eu posso fazer uma coisa que nenhum outro médico faz. Ou melhor, nenhuma pessoa no mundo faz. Sei disso, pois já tentei encontrar outras pessoas como eu. 

Desde quando era um garoto, tenho uma habilidade especial que ninguém mais tem. Tudo começou dois dias antes do falecimento do meu avô. Eu costumava caminhar no bosque perto de sua casa para pegar amoras. Enquanto enchia minha cesta com alguns punhados, um pensamento lampejou em minha cabeça. Não era como um pensamento comum ou uma ideia que nasce fortuitamente em contato com nossa natureza inspiradora. Era como um fragmento de um sonho, que passava como uma cena de um filme em minha mente. Em minha cabeça, vi a casa dos meus avós por dentro, ia passando pelos cômodos, e quando cheguei à sala, via um homem estranho esfaqueando meu avô, golpeando-o na barriga. Despertei de meu sonho lúcido alguns instantes depois, ofegante e um pouco confuso. Depois disto, levei as amoras para minha avó e fui para casa. Dois dias depois, quando voltei para visitá-lo, vi dois homens vestidos de branco levando meu avô em uma maca, com seu corpo coberto por um lençol branco. Só depois eu soube que um homem a quem meu avô devia dinheiro invadiu a casa na noite anterior e o matou com uma faca de cozinha. Eu tinha nove anos, e essa foi a primeira vez que isso aconteceu. 

Um ano depois, tive novamente este estranho sonho desperto, desta vez com a nossa vizinha, a senhora Perkins. Ela estava comendo uma uva passa e se engasgou. Cômico, porém trágico. Ela era uma boa pessoa, sempre alimentava os cães de rua com os restos do jantar. Soube no dia seguinte, ao ouvir uma conversa entre minha mãe e a vizinha da frente. 

Com o passar dos anos, estas visões em minha cabeça continuaram acontecendo. Eu passei anos tentando entender o que era eu era, e por que eu era o único a ter esta habilidade. Tentei encontrar outras pessoas as quais isto também acontecesse, mas fracassei. 

Quando me contrataram para trabalhar no hospital, meu primeiro paciente foi um homem que havia perdido toda a sua família em um incêndio alguns meses antes. Assim que ele entrou pela porta da minha sala e se sentou no sofá a minha frente, tive uma visão. Aquele homem estava pendurado pelo pescoço em uma corda, no meio da cozinha de sua casa. Ao seu lado, uma cadeira estava caída no chão. Eu sabia que ele iria cometer suicídio, e podia impedi-lo. Começamos um tratamento intenso, e alguns meses depois, ele estava totalmente curado, era um novo homem. 

A partir de então, entendi o porquê de eu ser o único capaz de fazer isto, de ver a morte das pessoas antes de acontecer. Eu senti como se tivesse recebido uma missão. Senti que meu dever era ajudá-las. Eu poderia impedir que o pior acontecesse. E foi o que eu fiz. E assim ganhei minha reputação. 

Imagine a seguinte situação: você nasceu com uma habilidade extraordinária a qual ninguém mais possui. E com ela, você ajuda pessoas, salva vidas. Qual seria a sua atitude? Bom, no meu caso, eu queria que todos soubessem, para que mais pessoas viessem até mim e eu pudesse ajuda-las. Graças à minha reputação, não foi difícil reunir toda a imprensa da região, com a promessa de que o melhor psicólogo de Chicago faria uma grande revelação. 

Quando finalmente revelei diante de toda a imprensa de Chicago meu grande segredo, é claro que acharam que eu estava louco. Afinal, quem iria acreditar em um homem adulto que dizia conseguir prever a morte? Ao invés de noticiar a grande habilidade de um psicólogo que podia salvar vidas, a manchete que tomou as primeiras páginas do jornal semanal foi a piada sobre a possível insanidade do Dr. Thomas Grant. 

A história de fato repercutiu por toda a cidade. Pessoas de ambas as classes sociais comentavam pelas ruas o grau de meu estado mental. Riam, murmuravam, criavam boatos, disseram até que eu era perigoso. 

Obviamente, a diretoria do hospital não gostou nada de toda esta exposição. Para eles, me expus ao ridículo gratuitamente, e, consequentemente, prejudiquei o bom nome do hospital. Hipócritas, era graças a mim que o hospital se tornou conhecido nacionalmente, e agora me colocam em posição de vilão apenas para manter o “bom nome”... 

Depois de uma reunião, a comissão da diretoria do hospital foi unânime ao decidir que eu devia ser exonerado do meu cargo. E como notícia ruim nunca vem sozinha, afirmaram, também, que, devido ao forte estresse em que fui exposto no trabalho, estava sofrendo de um distúrbio mental grave. Em outras palavras, para eles, eu estava completamente fora de mim. Recomendaram que eu fosse levado para o Hospital Sanatório Montgomery, para receber o tratamento adequado. Mas todos nós sabemos o que isto quer dizer... Foi então que o meu pesadelo começou. 

O Sanatório Montgomery fica em uma área rural de Lake Forest, uma cidade que fica a cerca de cinquenta minutos de Chicago. Fui levado em um dos carros utilizados pela diretoria do hospital, mais um bem que apenas graças a mim eles podem desfrutar. Fui recepcionado por um funcionário, que vestia um uniforme hospitalar branco, e uma enfermeira bem jovem, não devia ter mais do que dezoito anos. 

— O doutor Miller irá recebê-lo agora. — Disse a jovem enfermeira, enquanto a acompanhava até uma porta com os dizeres “Dr. Miller” em uma plaquinha. 

A porta se abriu antes que a enfermeira pudesse bater. Um homem, de postura firme, um tanto arrogante, vestindo um terno de lã marrom escuro, nos recepcionou com seu olhar empertigado, medindo-me com os olhos. 

Anthony Miller. A escória da psicologia. Não passava de um velho prepotente e narcisista, roubou a tese de outro psicólogo e a publicou em seu nome. Aliás, este psicólogo era eu. Ele recebeu diversas honras, frutos de um trabalho feito por mim. 

— Ora, ora... Thomas Grant. É bom revê-lo. Queira entrar, por favor. — Disse, acenando com a mão o caminho da entrada. 

Não esbocei satisfação alguma em revê-lo. Ele não me engana. Fazendo-se de cortês na frente dos empregados a fim de não revelar o verdadeiro canalha que era. 

— Sente-se, senhor Grant. — Dizia, enquanto dava a volta em sua mesa e sentava-se em sua cadeira. — Confesso que fiquei muito surpreso quando soube que o senhor chegaria, embora fosse óbvio que o trouxessem aqui. Um psicólogo famoso como você, só poderiam trazê-lo para o melhor hospital. 

— Sanatório. — Respondi, quase por cima de suas palavras. — Trouxeram o melhor psicólogo de Chicago para um sanatório. Não consegue perceber onde está o erro, “doutor”? 

Levantando uma das sobrancelhas enquanto me encarava, Anthony respondeu: 

— Na verdade eu vejo apenas como uma ironia do destino. Todos nós vimos que o senhor anda muito conturbado com toda a pressão do trabalho. E eu entendo isso. Não é qualquer um que consegue manter-se firme nesta profissão. 

Apenas dei de ombros com sua arrogância. Anthony continuou: 

— Antes preciso que assine este termo de compromisso para com o tratamento. Leve o tempo que precisar para lê-lo. — Disse, colocando uma folha sobre a mesa e arrastando-a em minha direção. 


Assine na marcação indicada, com caneta esferográfica azul, como Thomas Grant. 

Quando assinar, vá para o trecho 1

Caso não queira assinar, vá para o trecho 2.


Trecho 1
— “Reagir positivamente”? Isto é sério? — Indaguei, em tom de ironia. 

— Esta é a intenção do tratamento. — Respondeu Anthony. 

- Não sou louco, Anthony. Caso não tenha percebido, eu não devia estar aqui. 


(Pule o trecho 2 e continue lendo normalmente.)


Trecho 2
Olhei para Anthony, com raiva. Assinar aquele documento seria minha rendição. Peguei a folha com as duas mãos e a rasguei na metade, colocando os pedaços sobre a mesa novamente. 

Anthony apenas olhou para mim, impaciente, porém mantendo a compostura. 

— Por favor, Tom, não torne as coisas mais difíceis. Assine, ou terei que fazer uma recomendação nada agradável para sua diretoria. — Disse Anthony, tomando outro documento igual ao rasgado e colocando-o sobre a mesa. 

— Trazer-me aqui já foi algo desagradável o bastante. — Respondi, em tom de protesto, pegando uma caneta sobre a mesa. 


(Volte para o documento, assine-o, depois continue lendo normalmente).


— Sei que não queria estar aqui, Tom, mas você deve admitir que o que fez foi de absoluta imprudência. Afinal, afirmar que consegue prever o futuro é um completo absurdo. — Disse Anthony, rindo em tom de deboche. 

— Pense como quiser. Sua opinião é o que menos me importa no momento. 

— Por que este tom rude, Tom? — Disse Anthony, fazendo uma pausa antes de iniciar a frase, parando novamente para me encarar, com um olhar cínico. — Trouxeram-no aqui para que eu pudesse lhe ajudar, mas eu não poderei fazer muita coisa se você não admitir que tem um probl... 

— Sei o que está tentando fazer, Anthony. — Disse, interrompendo-o. — Estes joguinhos psicológicos não irão funcionar comigo. Lembre-se de que também sou psicólogo, aliás, de melhor reputação que a sua. 

Sua expressão ficou séria, e a ira podia ser vista em seus olhos, mas Anthony conseguiu se controlar. Para mim, era muito satisfatório vê-lo contorcendo-se de raiva. 

— Você não passa de um charlatão arrogante, senhor Thomas. 

— É doutor Grant. — Respondi, em tom de desdém. 

— Como queira, senhor Grant. — Concordou Anthony, indiferente. — Para mim o senhor é apenas um homem mesquinho, que inventa firulas para autopromover-se. 

Apenas dei de ombros para suas provocações. Anthony, então, continuou: 

— Mas aqui... O senhor me pertence. — O tom de sua voz se tornou frio, e podia sentir sua alma sombria através de cada palavra que saia de sua boca. — Aliás, irei pessoalmente providenciar para que sua estadia seja o mais desagradável possível. 

— Não se preocupe. — Respondi, fazendo uma breve pausa antes de iniciar a frase. — Não vou ficar aqui por muito tempo. 

Anthony apenas me encarava com ódio no olhar. Estava mais do que claro que ele iria fazer da minha vida um inferno enquanto eu estivesse aqui. Mas havia algo a mais em sua voz. Uma presença sombria. Algo que, apesar de não ter me assustado, me deixou preocupado. Ele apertou um botão em sua mesa, fazendo uma campainha tocar ao longe, e o som ecoar de fora da sala. A jovem enfermeira que me recepcionou entrou novamente na sala. 

— Queira sair da minha sala agora, por favor. A senhorita Harrison irá lhe mostrar o caminho. 

Levantei-me e fui em direção à porta. 

— A propósito... 

Continuou Anthony, interrompendo meus passos até a porta. 

— Está vendo aquele quadro na parede? É meu diploma de doutorado. — Disse, apontando para um quadro de moldura de madeira com detalhes em dourado. — Apenas quem possui um desses pode usar o título de doutor. Acredito que tenha total conhecimento sobre isso, não é mesmo, senhor Grant? 

Inclinei-me para frente em sua direção. Mal podia me controlar perto daquele cretino. O mesmo funcionário que me recepcionou entrou na sala, dizendo “vamos”, tocando em meu ombro, antes que eu pudesse fazer qualquer coisa. 

Eu sabia que não iria ser fácil, e que Anthony Miller faria de tudo para me ver destruído. Mas eu não vou desistir. Vou sair daqui o mais rápido possível, custe o que custar.

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