sábado, 30 de maio de 2015

Presságios


GÊNERO: Horror

CLASSIFICAÇÃO ETÁRIA: Proibido para menores de 16 anos.

SINOPSE: Após um garoto avistar uma mulher com um corte profundo na garganta no parapeito da janela de uma antiga casa, tragedias e acontecimentos inexplicáveis começam a surgir em sua vida. Que mistérios a casa abandonada de Greenfield esconde?


PRESSÁGIOS

Era uma noite fria de outono. Podia-se ver ao longe a neblina que cobria a visão das ruas da pequena Greenfield, vila situada no norte do Texas. Choveu à tarde, por isso o tempo estava úmido. As gotas de orvalho enfeitavam a vegetação abundante daquela região.

Greg estava à beira da janela de seu quarto com seu telescópio, espiando algumas janelas das casas vizinhas, na tentativa de encontrar alguma vizinha jovem e bonita se despindo. Em seu rádio, tocava Dig up her bones, da Misfits, sua banda favorita. Ele observava atentamente cada janela, como um guarda vigiando uma prisão, tudo para ver o corpo de alguma moça desprevenida. Até o momento, nada havia encontrado, além de um homem lendo jornal no sofá, uma família orando antes da refeição, uma mulher fazendo um bebê dormir...

Ao observar a janela de uma casa a um quarteirão da sua, encontrou o que tanto desejava. Uma mulher, de longos cabelos loiros, corpo atlético, com uma aparência de seus prováveis vinte anos. Estava completamente nua em frente a um espelho, penteando suas longas madeixas douradas. O quarto estava pouco iluminado, e não era possível visualizar com clareza o que acontecia lá dentro, apenas a silhueta da mulher era visível.

– Hehe, é disso que eu estou falando! – Exclamou Greg, em tom baixo, com um sorriso perverso no canto da boca.

Greg ajustou o zoom de seu telescópio para visualizar mais de perto a beldade. Ele ficou observando-a escovando os cabelos, analisando a silhueta sombreada de seus seios. De repente, a mulher parou, e colocou a escova sobre a penteadeira em sua frente. Ela virou o rosto lentamente, em direção a Greg, como se já soubesse que estava sendo observada.

Abruptamente, Greg se afastou do telescópio e se abaixou, escondendo-se da vista da janela. “Droga, ela vai contar pros meus pais. Tô ferrado!”, pensava assustado o garoto, enquanto permanecia escondido. Lentamente, ele foi se levantando e olhando em direção a casa. A mulher ainda estava lá, dessa vez bem próxima ao parapeito da janela.

Greg se aproximou do telescópio novamente para vê-la, temendo que ela o tivesse visto e que lhe acusaria a seus pais. Ao aproximar o zoom, Greg pôde ver melhor o corpo da jovem, agora mais iluminado graças à luz da lua, mas não teve uma surpresa agradável.

A mulher estava com um corte profundo na garganta, o que tornava o fato de ela permanecer firme, de pé, viva, impossível. Seu sangue banhava seu corpo despido, cobrindo com o vermelho sangria seus órgãos desprotegidos.

– Mas o que...? – Confuso e perturbado, Greg se questionava sobre aquilo que estava diante de seus olhos.

Apesar do grave ferimento, a jovem não possuía expressão alguma em seu rosto. Permanecia neutra, seu olhar era como o de uma boneca, fixo, porém sem vida. Ela ficou parada, apenas apontando, com seu dedo indicador, esticando seu braço direito, para a casa dos Johnson, vizinhos de Greg.

Completamente aterrorizado, Greg guardou o telescópio, fechou a janela de seu quarto e deitou-se em sua cama, com os olhos arregalados, tremendo, encolhendo-se entre as cobertas, tentando esquecer a terrível visão que tivera. Cerrou seus olhos com força e tapou seus ouvidos usando as mãos, em pânico. Depois de minutos tentando apagar sua mente, adormeceu.

No dia seguinte, Greg acordou com um forte clarão. As cortinas estavam abertas, e a luz do sol cegava seus olhos. Sentiu, também, algo puxando seu pé.

– Acorda, Greg! Hora de ir pra escola. – Dizia sua mãe, enquanto chacoalhava seu pé.

Ainda sonolento, Greg levantou-se de sua cama, e, cambaleando, foi se ajeitar para ir à escola.

Entrando na sala de aula, Greg foi se sentar em seu lugar, perto de seus amigos. A conversa na roda eram os mesmos assuntos de sempre: beisebol, carros, garotas..., nada anormal para três garotos de quatorze anos.

Ao avistar Greg, Fred e Kyle acenaram para seu amigo, que estava um pouco distante aquele dia, com seus pensamentos em outro lugar.

– Greg, adivinha só: conseguimos aquela figurinha rara do Dodge Charger. – Disse Kyle, abrindo sua mochila e procurando algo dentro.

– E o melhor de tudo: – Empolgado, Fred completava a notícia. – Roubamos de um nerd da 7ª série. Acabamos com ele!

– Ah, legal, galera... – Respondeu Greg, desanimado.

– Vamos revezar. – Disse Fred. – Nas segundas, quartas e quintas ela fica comigo, nas terças e sábados com você, e nas sextas e domingos com o Kyle.

– Espera aí! – Protestou Kyle. – Por que você vai ficar com a figurinha três dias na semana?

– Porque fui eu quem tomou ela do nerd, então eu tenho direito de ficar com ela um pouco mais. – Argumentou Fred.

Os amigos, então, começaram a discutir, mas Greg não estava com cabeça para isso naquela manhã. Em dias normais, ele teria dado uns cascudos nos dois e ficado com a figurinha só para ele, mas não hoje. Não depois do que vira.

– Tá bom, Fred, vamos ver o que o Greg acha disso então... – Disse Kyle, já esperando uma resposta de Greg.

– Sei lá, galera... Façam o que vocês quiserem... – Respondeu Greg, ainda desanimado.

– Qual é, cara. Que desânimo é esse? – Indagou Fred. – Seus pais cortaram sua internet e não dá mais pra assistir pornô?

Fred e Kyle riram da piada, e Greg, meio assustado, começou a contar:

– Não, é que... Ontem aconteceu uma coisa muito sinistra.

Fred e Kyle pararam de rir, agora olhavam para Greg, concentrados.

– O que houve? – Perguntou Fred.

Greg continuou:

– Ontem à noite eu estava olhando as janelas pelo telescópio, quando eu olhei para a janela da casa atrás da loja de quadrinhos. Havia uma mulher lá, e ela estava nua.

– Legal... – Sussurrou Kyle.

– Estava escuro, não dava pra ver direito... – Greg continuou. – Quando ela chegou perto da janela, eu vi que ela estava toda coberta de sangue, com a garganta cortada. Não tinha como ela estar viva!

– Aaaah, deixa de ser mentiroso, cara. – Duvidou e debochou Fred.

– Não estou mentindo! Foi o que eu vi!

– Foi mal, cara, mas Fred tem razão. – Disse Kyle. – Não pode ser verdade.

– É claro que é! – Respondeu Greg, irritado. – Foi bem naquela casa atrás da loja de quadrinhos.

– Qual é, cara... – Debochava Fred. – Já faz anos que ninguém mora naquela casa. Sua mãe sabe que você anda fumando erva?

– Se for da boa eu também quero. – Kyle contribuía com o deboche.

– Vocês são uns babacas! – Irritado, Greg se levantou e sentou-se longe dos amigos, que riam do que acreditavam ser tamanha besteira.

Mais tarde, voltando para casa, Greg viu uma ambulância e uma viatura policial estacionadas em frente à casa de seus vizinhos, os Johnson. Sua mãe estava abraçada à senhora Johnson, que chorava muito e enxugava suas lágrimas com um lenço branco.

Greg ficou esperando por sua mãe em frente ao gramado de sua casa, que voltava com uma expressão triste no rosto.

– O que aconteceu, mãe? – Indagou Greg, preocupado.

– Ah filho, o senhor Johnson faleceu. – Respondeu sua mãe, lamentando a morte do vizinho.

– Nossa! O que aconteceu? – Perguntou Greg, perplexo.

– Ele estava consertando o escapamento da caminhonete quando o macaco soltou e o carro caiu bem em cima dele. Morreu esmagado...

Greg ficou o dia todo pensando no que aconteceu. Ele se lembrou de que a mulher da janela, que supostamente seria um fantasma, estava apontando para a casa dos Johnson, e agora essa morte terrível. Mal conseguiu dormir a noite pensando nisso.

Na manhã seguinte, era sábado. Greg levantou cedo, comeu seu cereal e foi para a loja de quadrinhos. Lá, encontrou-se com Fred e Kyle, que estavam olhando uma pilha de gibis dentro de uma caixa de madeira.

– E aí, pessoal! – Disse Greg, cumprimentando os amigos.

– E aí, cara! – Responderam Fred e Kyle, em uníssono.

– Souberam o que aconteceu com o senhor Johnson? – Disse Greg, em tom sério.

– É, a gente soube. – Respondeu Fred. – Mas é uma pena não terem deixado a gente ver o cadáver. Ia ser legal.

– Fred, você é doente. – Disse Greg, chocado com a total falta de sensibilidade do amigo. – A senhora Johnson estava chorando muito ontem. Minha mãe ficou a tarde toda na casa deles, tentando acalmá-la.

– Talvez tenha sido a ‘gostosa zumbi’ que o matou. Buuuu... – Debochava Fred.

– Nem me fale, cara... Nem me fale. – Disse Greg, amedrontado.

Virando-se para o dono da loja, um senhor de cabelos e bigode brancos, Fred continuou com as piadas e o deboche:

– Hey, senhor Willie, esse bobão aqui acha que viu um fantasma naquela casa velha aqui na rua de trás.

Kyle apenas ria, acompanhando Fred.

– Cala a boca, seu imbecil! – Exclamou Greg, já irritado com as provocações de Fred.

– Ora, mas vocês não sabem a história dessa casa? – Perguntou senhor Willie, enquanto guardava um espanador que havia usado a pouco para tirar o pó de cima do balcão.

– Conta aí. – Disse Fred, curioso.

– Bom, há muitos anos atrás viveu um barbeiro e sua esposa nessa casa. Sua esposa era uma mulher jovem e muito bonita, mas o barbeiro era ciumento. E tamanha era sua possessão que, um dia, ele matou a esposa cortando sua garganta com uma lâmina bem afiada. Logo em seguida, ele se enforcou. Anos depois, outra família se mudou para essa casa, mas todos eles, o casal e o garotinho de cinco anos, morreram terrível e misteriosamente lá. A prefeitura, então, resolveu fechar a casa, para que ninguém mais morasse nela.

Os três garotos ouviam atentamente a história, com uma mescla de fascínio e terror em suas expressões. Greg estava bastante focado e pensativo durante a história. O velho, então, continuou:

– Alguns supersticiosos do bairro dizem que o espírito do barbeiro os matou. Muitos afirmaram ter visto fantasmas pelas janelas da casa. Mas o mais perturbador é que dizem que, devido à forma violenta como morreram, esses espíritos se tornaram presságios da morte, e agora estão presos no mundo dos vivos, mostrando a aqueles que os podem ver onde a morte irá passar e dar seu beijo gelado.

Os garotos ficaram boquiabertos e mudos com o final da história macabra. Porém, para Greg, a história fazia sentido. Ele tinha certeza que vira o espírito da esposa do barbeiro.

– Senhor Willie, o senhor é mesmo sinistro. – Disse Kyle, com medo nos olhos e no tom de voz.

Os garotos, então, fizeram suas compras e saíram pela porta da frente da loja, caminhando pela calçada.

– O que vocês acharam da história que o senhor Willie nos contou? – Perguntou Greg, ainda pensativo.

– Eu acho isso tudo uma grande besteira... – Respondeu Fred, em tom de ceticismo.

– Mas e o que eu vi aquela noite? E o que aconteceu com o senhor Johnson? Não acham isso,no mínimo, muito estranho?

– Eu acho que você precisa ficar calmo, cara. – Disse Fred. – Olha só, por que é que a gente não entra na casa agora pra ver se isso é verdade mesmo, e ver se a gente encontra algum fantasma?

– Eu topo! ­– Concordou Kyle.

– Nem pensar! – Protestou Greg. – Você ouviu o que o senhor Willie disse: todo mundo que entra nessa casa morre. Eu é que não vou me arriscar assim.

– Aaah, quer saber, Greg? Você é um maricas que acredita em qualquer bobagem que inventam por aí. Por que não admite de uma vez que está com medo?

– Quer saber, Fred? Vai à merda! Eu vou pra casa ler os meus gibis novos. – Exclamou Greg, irritado, virando as costas e indo em direção a sua casa.

– Vai lá, seu frangote! E vê se o Batman te empresta um pouco da coragem dele.

Enquanto ouvia o riso debochado de seus amigos, que ia ficando cada vez mais baixo à medida que ele se afastava, Greg caminhou até sua casa, aborrecido, mas ao mesmo tempo temendo o que poderia acontecer a seus amigos.

– Anda, Kyle, me ajuda aqui com esse cadeado. – Ordenou Fred, enquanto seu amigo segurava as correntes já corroídas pela ferrugem do portão da casa e ele golpeava o cadeado com uma pedra, até se quebrar.

O ranger do portão enferrujado se abrindo arrepiou os cabelos da nuca de Kyle, que agora estava um pouco tenso.

– Fred, acho melhor a gente ir embora. ­– Sugeriu Kyle, amedrontado.

– Não! Logo agora que conseguimos abrir o portão? – Respondeu Fred, protestando.

– Mas e se o Greg estiver certo? Vamos embora, cara, isso aqui é roubada.

– Não vai me dizer que você também está com medo?

– Não, é claro que não... – Respondeu, tentando esconder o medo em sua voz. – Mas é que se nos pegarem aqui dentro, estamos fritos. Esqueceu que essa é uma propriedade privada?

– Aah deixa de falar besteira, Kyle. Tá parecendo uma bichinha. Anda, me segue.

Fred, então, foi abrindo a velha porta dupla de madeira da entrada da casa. Seu interior era bem amplo, e sua decoração, embora singela, era muito elegante, com um design do início do século XX, aparentemente. Tudo estava muito empoeirado, e uma estranha sensação de melancolia pairava no ar. Havia, também, uma longa escadaria que dava acesso a um corredor no segundo andar.

– Vem, vamos lá pra cima ver se encontramos algum cadáver. – Disse Fred, fascinado com a aparência típica de casas mal assombradas que o local possuía.

– Olha, Fred, eu ainda acho que isso não é uma boa ideia... – Respondeu Kyle, hesitando, sentindo um calafrio na espinha.

– Vem logo, Kyle, seja homem pelo menos uma vez na sua vida. – Disse Fred, irritado, puxando Kyle pelo braço.

Enquanto subiam as escadas, Kyle sentiu novamente um calafrio passar por toda sua espinha, e uma estranha sensação de que eles não estavam sozinhos.

– Fred...

– Shhh... – Chiou Fred, fazendo o amigo amedrontado entender que não devia mais dizer nada.

Ao chegar ao topo, se depararam com um longo corredor, onde havia algumas portas fechadas.

– Vai lá dar uma olhada onde termina esse corredor, eu vou checar esses quartos. – Ordenou Fred.

– Mas Fred...

– Vai logo!

Kyle, então, seguiu até o fim do corredor, que continuava depois de uma curva a direita. Havia mais duas portas até o final do corredor, e algumas mesinhas com vasos e outras antiguidades sobre elas.

– Tá tudo bem, nada de ruim vai acontecer... – Sussurrava Kyle, tremendo, sozinho.

De repente, uma forte pancada fez com que Kyle desse um grito de susto e virasse para trás, abruptamente. Uma janela se abriu com o vento, e bateu contra a parede.

Ao perceber a causa do barulho, Kyle suspirou aliviado. Ao virar-se novamente em direção às portas, Kyle deu de cara com um garotinho, levando outro, porém leve, susto. O menino não aparentava ter mais do que cinco anos de idade, tinha cabelos negros e sua pele era muito branca. Tinha olheiras muito fundas e havia hematomas por todo seu corpo, principalmente na região do pescoço, como se tivesse sido sufocado.

Kyle ficou estático, pois se recordou que na história do senhor Willie havia um garotinho que morreu na casa. O menino apenas o encarava, com um olhar melancólico e sem vida. Ele foi levantando lentamente seu braço esquerdo, e, usando seu dedo indicador, apontava para Kyle.

Kyle apenas o observava, sem entender. Mas depois de alguns instantes, Kyle deduziu que, na verdade, o garoto estava apontando para o que estava atrás dele. Ao se virar, só restou tempo para Kyle sentir uma lâmina passando por seu pescoço e cortando sua garganta. Sufocando com o próprio sangue, Kyle tentou estancar a ferida com as mãos, enquanto olhava para a face demoníaca do barbeiro, que o olhava com um sorriso psicótico no rosto. Kyle foi ficando fraco, enquanto o sangue jorrava por sua camiseta. Foi se ajoelhando, perdendo suas forças, até finalmente cair no chão com os olhos e boca abertos, morto.

Fred foi seguindo até o fim do corredor com passos pesados, aborrecido. Iria ao encontro de Kyle, já que ouviu o som de seu grito. “Aquele mané deve ter visto um rato e se assustou. Parece uma garota...”, pensava.

Enquanto caminhava olhando para o chão, viu uma enorme poça de sangue que cobria boa parte do piso do andar. Ao seguir o rastro, encontrou seu amigo estirado no chão, com o rosto e mãos esbranquiçados, já quase sem sangue em seu corpo.

– Kyle? – Incrédulo, disse Fred, engasgando, levando a mão direita até a cabeça.

Fred, então, saiu correndo em direção à escadaria pela qual chegaram. Ao chegar lá, havia uma moça nua e ensanguentada parada em frente à escada, barrando a passagem. Fred parou de correr bruscamente, e foi se afastando com alguns passos para trás, com os olhos arregalados de pavor. A moça se aproximou rapidamente de Fred, como num piscar de olhos, de forma sobrenatural, e o empurrou escada abaixo. Ele rolou por todos os degraus, até enroscar a cabeça em um deles, chegando ao térreo já morto, com o pescoço quebrado.

Mais tarde, o telefone da casa de Greg toca, e sua mãe atende. Era a mãe de Fred, perguntando se seu filho estava com Greg, já que estava escurecendo e o garoto ainda não havia voltado para casa. A mãe de Greg respondeu que ele havia voltado sozinho, e que Fred não estava com ele. Minutos depois, o mesmo fez a mãe de Kyle, que recebeu a mesma resposta.

Greg estava lendo seus gibis quando sua mãe entrou em seu quarto, contando que as mães de seus amigos haviam telefonado. Greg, então, contou a sua mãe o que havia acontecido, e, preocupado, disse que iria encontra-los. Sua mãe, então, concordou e pediu para que voltasse logo, pois estava escurecendo e parecia que iria chover.

Greg foi até a casa abandonada, e logo de cara encontrou o portão da frente aberto, com o cadeado quebrado. A porta da frente estava entreaberta. Greg foi empurrando a porta lentamente, quando a luz vinda de fora iluminou o salão, revelando o cadáver de Fred.

– Ai meu Deus! Fred! – Exclamou Greg, correndo em direção ao corpo.

Greg checou, mas logo viu o pescoço quebrado do amigo.

– Fred, seu grande idiota... Eu disse pra você não entrar aqui! – Resmungou Greg, pasmo, engasgando com uma lágrima caindo em seu rosto.

De repente, Greg ouviu o som de alguém correndo e um riso de criança vindo do segundo andar.

– Kyle? É você? – Gritou Greg, na esperança de encontrar seu outro amigo ainda vivo.

Greg, então, foi subindo a escadaria, com passos lentos, suando, sentindo um frio dentro do estômago que acabava no final de sua espinha. Ao chegar ao topo da escadaria, viu um vulto de alguém pequeno passar correndo no final do corredor, virando à direita, rindo. Greg, então, seguiu o vulto até o fim do corredor, mas não encontrou a tal criança. O que ele encontrou foi o cadáver de seu amigo Kyle, já com os olhos cinzentos e com cheiro de morte.

Greg deu um grito de pavor, e virou-se para fugir dali. Ao virar-se, deu de cara com o barbeiro, que o olhava com o mesmo sorriso psicótico de quando matou Kyle. Ele tentou golpear Greg com a lâmina, suja de sangue, mas Greg conseguiu segurar sua mão e empurrá-lo sobre uma das mesinhas, dando tempo de fugir correndo.

Já estava quase chegando às escadarias quando deu de cara com uma mulher, com cortes profundos em seus pulsos e uma aparência muito pálida, barrando a passagem. Greg desviou dela e continuou correndo para o outro lado do corredor.

Havia mais portas naquele lado, e Greg foi tentando abrir todas elas. A primeira estava trancada, já a segunda estava aberta, mas não havia algo bom lá dentro. Ao abrir a porta, Greg deu de cara com um homem ensanguentado, com suas vísceras à mostra, vindo em sua direção com um machado nas mãos para atacá-lo.

Greg fechou rapidamente a porta e correu em direção à outra. Esta estava aberta, e o quarto estava vazio. Ao olhar para trás, no corredor, Greg viu o barbeiro, o homem com o machado e a mulher com os pulsos cortados vindo em sua direção com passos largos. Ele entrou no quarto e fechou a porta, barrando-a com uma cadeira, prensando-a contra a fechadura. Greg olhou ao redor do quarto, e viu uma janela de vidro fechada. Levou um susto com o barulho do machado atravessando a madeira velha e roída por cupins da porta do quarto.

Sem tempo para pensar, Greg correu até a janela, e com um pouco de dificuldade, conseguiu abri-la, pulando para fora logo em seguida.

Ao pular a janela, Greg não se lembrou de que estava no segundo andar, e caiu de uma altura moderada. Levantou-se com dificuldade, pois torceu seu tornozelo na queda. Greg continuou a fugir, mancando, indo em direção ao portão de entrada da casa e saindo do terreno.

Olhando para trás e sentindo muita dor, Greg deu um sorriso de satisfação pelo canto da boca, ofegante.

– HAHAHAHAHA! Viram? Eu consegui, seus otários! – Gritava Greg, insano. – Eu escapei! Nunca vão me pegar, entenderam? Nunca!

Enquanto gargalhava como um louco, Greg foi caminhando pela rua, sem olhar para os lados. Não percebeu quando um caminhão veio em alta velocidade e o atropelou em cheio, fazendo seu corpo voar alguns metros e cair com força no chão. Em seguida, as rodas foram passando por cima de seus membros, esmagando-o e quebrando todos os seus ossos.

Com a visão turva, um pouco zonzo e sentindo seu corpo mais leve, graças à seus ossos que haviam virado migalha, Greg percebeu que algumas pessoas estavam rodeando-o. Sentindo muita dor por cada centímetro de seu corpo, Greg viu Fred, Kyle, o senhor Johnson, a jovem nua da janela e todas as pessoas que o perseguiram pela casa, formando um círculo ao redor de seu corpo. Enquanto a luz ia deixando seus olhos, Greg observava todos eles em seu último suspiro, parados, apontando para ele.

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